O QUE É O TDA? UM TRIO DE RESPEITO:
DISTRAÇÃO, IMPULSIVIDADE E HIPERATIVIDADE...
Quando pensamos
em TDA, não devemos raciocinar como se estivéssemos diante de um
cérebro "defeituoso". Devemos, sim, olhar sob um foco diferenciado,
pois, na verdade, o cérebro do TDA apresenta um funcionamento bastante
peculiar, que acaba por lhe trazer um comportamento típico, que pode ser
responsável tanto por suas melhores características como por suas
maiores angústias e desacertos vitais.
O
comportamento TDA nasce do que se chama trio de base alterada. É a partir
desse trio de sintomas - formado por alterações da atenção,
da impulsividade e da velocidade da atividade física e mental - que se
irá desvendar todo o universo TDA, que, muitas vezes, oscila entre o universo
da plenitude criativa e o da exaustão de um cérebro que não
para nunca. Por esse motivo, será feita agora uma análise minuciosa
do trio de sintomas que constitui a espinha dorsal do comportamento TDA:
ALTERAÇÃO
DA ATENÇÃO: Este é, com certeza, o sintoma mais importante
no entendimento do comportamento TDA, uma vez que esta alteração
é condição sine qua non para se efetuar o diagnóstico.
Uma pessoa com comportamento TDA pode ou não apresentar hiperatividade
física, mas jamais deixará de apresentar forte tendência à
dispersão.
Para um adulto TDA,
manter-se concentrado em algo, por menor tempo que seja, pode ser um desafio tão
grande como para um atleta de corrida com obstáculos que precisa transpor
barreiras cada vez maiores até chegar ao fim da pista. Essa dificuldade
em se manter concentrado em determinado assunto, pensamento, ação
ou fala, muitas vezes, causa situações bastante desconfortáveis
ao adulto TDA. Exemplo disso é o fato de estar em reuniões importantes
de trabalho ou de família e, de repente, desviar seus pensamentos para
pequenas coisas como o horário do jogo de seu time no dia seguinte, a roupa
que irá usar para ir ao cinema à noite ou mesmo se o carro está
suficientemente limpo para dar carona ao chefe. Várias vezes, o adulto
TDA é flagrado por seus parceiros ou patrões nesses lapsos de atenção,
acarretando desde pequenas a grandes discussões. Pode-se constatar isso
pela angustiada declaração de Diana, 22 anos, estudante de fonoaudiologia,
que relata suas dificuldades de se manter concentrada quando em aula ou em outras
situações acadêmicas:
Sabe,
eu sempre me perguntei por que divagava tanto quando estava assistindo às
aulas, ou sob supervisão. Algo em que eu deveria e também precisaria
prestar atenção. Eu imaginava por que cargas-d'água isso
tinha que acontecer comigo, já que sempre fui perfeccionista. Eu me recriminava;
achava que só poderia ser alguma falha de caráter e que, no fundo,
deveria ser uma desinteressada de tudo. Afinal, eu olhava para a face de minha
supervisora nos orientando em pontos importantes e, embora no início conseguisse
acompanhar, depois de certo tempo via o rosto dela se transformar em uma tela
de cinema, onde se passavam vários acontecimentos de minha vida, planejamentos,
ou, ainda, imaginava o que estava por vir: fantasias, sonhos... Quando eu voltava
ao tempo e espaço presentes, já não fazia a menor ideia do
que havia sido dito. Muita gente usa a expressão "pegar o bonde andando"
para descrever uma situação em que você pega algo no meio
e não entende nada... Mas para um TDA, eu acho que é o contrário:
você pega o bonde parado, fica nele até certo ponto e depois cai.
O bonde continua e você fica pra trás.
Com
o passar do tempo, o próprio TDA se irrita com seus lapsos de dispersão,
pois estes acabam gerando, além dos problemas de relacionamento interpessoal,
grande dificuldade de organização em todos os setores de sua vida.
Essa desorganização gera um gasto de tempo e de esforço muito
maior do que o necessário para realizar suas tarefas cotidianas. Tal situação
pode ser comparada a um carro cujo motor desregulado consome bem mais combustível
e submete suas peças a um maior desgaste, resultando em menor durabilidade
e desempenho.
Muitos TDAs descrevem períodos
de profundo cansaço mental e às vezes físico. Alguns usam
a expressão "cansaço na alma" para descrever seu estado
após a realização de tarefas nas quais se forçaram
em permanecer concentrados por obrigação. Por exemplo, a entrega
de um trabalho profissional que tiveram que realizar como um dever, com prazo
determinado e sem nenhuma paixão pelo que fizeram. No entanto, na grande
maioria das vezes, os resultados desses trabalhos são muito bons - quando
não, excelentes -, mas para o TDA fica sempre a sensação
de um resultado ruim. Esse julgamento equivocado é provocado, em parte,
pela desatenção de um cérebro envolto em uma tempestade de
pensamentos incessante, que dificulta a canalização de seus esforços
na realização de trabalhos com metas e prazos preestabelecidos.
A
estudante de fonoaudiologia relata também várias situações
comuns a um TDA e a fraca avaliação ou a consciência que tem
acerca da própria competência:
Aqueles
trabalhos escritos que precisam ser feitos dezenas de vezes na faculdade, como
dissertações, pesquisas, sempre foram sinônimos de terror
pra mim. Todo início de período eu jurava que seria diferente: não
entregaria os trabalhos em cima da hora, prestaria atenção durante
todo o período da aula, anotaria as explicações dos professores
e depois passaria a limpo de forma organizada. Na realidade, os meus apontamentos
sempre ficavam uma "zona", além de incompletos, porque eu sempre
"caía do bonde". Invariavelmente, eu pedia emprestado o caderno
das colegas que conseguiam fazer o que para mim era impossível, e tirava
fotocópias. O mais engraçado era que, na maioria das vezes, eu tirava
notas maiores que as delas, usando o mesmo material. Mas no caso de trabalhos
dissertativos, eu sempre deixava para os 45 minutos do segundo tempo. Fazia no
maior desespero, achava uma porcaria, e os professores adoravam! Eu ficava sem
entender nada, eu me achava uma fraude. Sempre desejei fazer os trabalhos de uma
forma disciplinada... o curioso é que nas poucas vezes que consegui, não
saíram tão bons, pelo menos na avaliação dos professores.
Retirei daqui: http://veja.abril.com.br/livros_mais_vendidos/trechos/mentes-inquietas.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário