Acho que me encontrei.
No início foi muito, mas muito difícil. Nos primeiros dias pensei em desistir. Largar tudo pra lá, afinal de contas, a vida continua - com você se estrebuchando ou não. Meus primeiros dias com Ritalina foram horrorosos.
Comecei tomando 10 mg por dia, comprimido normal. Em mim o efeito acabava em, no máximo, duas horas e em seguida vinha um enorme desgaste físico e mental, junto com uma baita depressão e irritabilidade, nervosismo. Não deu. Recorri ao meu psiquiatra.
De acordo com meus relatos, ele achou que o problema estava na dosagem, que estava baixa. Então, me prescreveu a Ritalina LA de 40mg. Veja: migrei de 10 para 40mg.
Achei que iria enlouquecer e não estou exagerando.
Nos primeiros dias fiquei extremamente nervosa. Coisas corriqueiras que geralmente só me aborreceriam, estavam me deixando em um nível master de stress. Meu humor estava muito instável: de 0 a 100 em dois segundos. Pensei em pedir demissão.
Recorri ao meu médico, again. "Pelo amor de Deus, vou matar pessoas!!!" Desabafei.
Ele me aconselhou a continuar para ver como seria a adaptação e me disse que no início realmente acontecia isso com muitas pessoas. Okay. Continuei. Me segurando. Tentando separar o que realmente era insuportável do que não era e que era só coisa da minha cabeça perturbada.
Socialmente: o caos. Só de pensar em sair e ter que socializar meu estômago embrulhava. Sem paciência total. Muita gente falando, ao mesmo tempo: impossível. Ao namorado, falei a verdade. Aos amigos: inventei mil desculpas (vai explicar, vai).
Segunda semana: beeem melhor. O nervosismo diminuiu bastante e eu já conseguia controlar e separar bem melhor as coisas. Mas sempre, todos os dias, no final do expediente, uma dor de cabeça terrível.
Olhei a bula: normal. Okay, continuei.
Minha paciência com pessoas estava controlada: eu conseguia pensar e agir com uma sabedoria que nunca tive. A arte de contornar situações. Agora eu tenho.
Terceira semana: dor de cabeça desapareceu. Tolerância mode on. Impulsividade praticamente controlada.
Inclusive agora consigo me comparar com antes: em determinadas situações, nas quais eu não conseguiria ficar com a boca fechada, agora fico. Além de conseguir ficar quieta na hora certa, consigo ver que antes eu não conseguiria e falaria e consigo, inclusive, saber o que eu falaria.
Hoje guardo meus pensamentos. Só falo depois de pensar e constatar que realmente é o melhor a fazer.
Socialmente: melhor. Mais seletiva. Mas nem se compara com antes: antes eu precisava sair. Eu tinha uma enorme necessidade de sair, ver gente, beber. A bebida foi uma fuga para mim, durante todos esses anos. Triste, claro. A bebida, juntamente com todos os problemas gerados pelo TDAH, só me encurralava ainda mais. Os dias pós baladas eram os piores, em todos os sentidos. Agora consigo ficar sossegada em casa e sair quando sentir vontade. Agora consigo saber quando estou com vontade de sair ou quando tenho necessidade de sair.
Negatividade: ainda tenho, vá lá. Mas bem inferior do que antes. Hoje consigo pensar que pode ser diferente, que eu consigo fazer algo, que eu posso tentar fazer algo. Que eu sou capaz.
Hoje consigo ver o lado bom das coisas, por mais difícil que seja, em algumas vezes.
"aquilo que parecia impossível..."
Ou seja: a solução estava na dosagem correta.
Me sinto como o Gollum (personagem do filme "O Senhor dos Anéis") quando vou tomar a Ritalina nossa de cada dia: "My precious! Gollum! Gollum!"
NÃO DESISTIR, é o caminho.
Digo isso por saber que desistir é o lema de uma pessoa portadora de TDAH.